terça-feira, 5 de outubro de 2010

Contra as armas

Contra as armas
A Câmara dos Deputados deve aprovar em breve o projeto de decreto legislativo que define a pergunta a ser feita no referendo nacional sobre armas. Se não houver alterações, os eleitores brasileiros serão convocados em algum domingo de outubro próximo a responder à pergunta:"O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?". Esta Folha defende o "sim".
Fá-lo não por considerar a proscrição total o mais adequado nem por julgar que a medida, se aprovada e convertida em lei, será capaz de conter as ações cada vez mais ousadas de criminosos, mas porque, diante das alternativas, as vantagens da proibição parecem superar em muito os problemas por ela acarretados.
Ao longo do debate, defenderam-se neste espaço a proibição do porte, restrições à venda e o direito de o cidadão manter arma em sua residência. Alertou-se, também, para o risco de um plebiscito criar falsas ilusões sobre a eficácia da medida num país em que as armas em mãos de civis, cidadãos de bem ou marginais, advem, em larga escala, do comércio clandestino, sobre o qual o veto à venda regular não teria efeito, salvo, possivelmente, o de estimulá-lo.
Além de sua dimensão simbólica, a vantagem da proibição, desde que aliada a ações temáticas para reprimir a venda ilegal, está na possibilidade de reduzir significamente um tipo muito específico de homicídio - o motivado por causas fúteis -, bem como os acidentes com armas de fogo. Em ganho, ao que indicam as estatísticas, seria importante. Na Gande São Paulo. por exemplo, 60% dos homicídios são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por motivos banais, como brigas de trânsito, discussões em bares e outras situações em que o destempero e os efeitos do álcool se associam à existência de uma arma à mão para produzir uma tragédia.
A esse respeito, a campanha de desarmamento, que recolheu mais de 300 mil artefatos principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, parece já estar produzindo resultados auspiciosos. Estudo divulgado nesta semana indica que internações hospitalares relacionadas a ferimentos por tiros caíram 10,5% em SP e 7% no RJ desde o início da coleta.
O veto às armas pode ser interpretado como uma limitação ao direito de autodefesa, o qual, mais do que uma garantia legal, é um instinto biológico. Está entre as atribuições do Estado, todavia, definir regras para o exercício de certas atividades e fixar os requisitos para a concessão de licenças. Ninguém  tem o seu direito de ir e vir ameaçado pelo fato de não poder dirigir um carro sem possuir habilitação. E não resta dúvida de que a decisão, entre nós, está sendo tomada por caminhos democráticos.
Assim, se o plebiscito determinar que o poder público deve proibir a comercialização e circunscrever o porte de armas a militares, policiais e algumas outras categorias, não se deverá ver aí um atentado aos direitos e garantias fundamentais, mas apenas mais uma das clássicas regulamentações da vida em sociedade.
Tal decisão não vai, como já se disse, impedir que traficantes e outros representates do crime organizado consigam o armamento leve ou pesado de que se utilizam. Para isso seriam necessárias outras medidas, que o poder público tem falhado em adotar. Diante do caminho que o debate seguiu, não resta dúvida, porém, que o melhor a fazer é votar pelo "sim" no plebiscito, na convicção de que a restrição às armas , sem ferir direitos fundamentais, venha a contribuir para preservar vidas e tornar melhor a sociedade.
Folha de São Paulo, 15 maio 2005, p. A2.

Questões

1) Editorial é um gènero textual cuja intenção é apresentar e defender a opinição ou a posição de determinado veículo de comunicação diante de um fato ou de uma ideia. Transcreva do texto a(s) frase(s) com essa intenção.
2) Ao expor os motivos da posição assumida, o editorial afirma:
"[...] diante  das alternativas, as vantagens da proibição parecem superar em muito os problemas por ela acarretados".
Com base nesse trecho, o que pode observar em relação à posição do jornal: ela se fundamenta numa certeza absoluta. Explique utilizando elementos do próprio trecho.
3) No terceiro parágrafo do texto, há uma referência a ideias que já foram defendidas anteriormente.
a) Que ideias são essas.
b) Qual dessas ideias parece revelar uma contradição em relação à posição que o jornal assume nesse editorial. Jusrifique sua resposta.
4) Ainda no terceiro parágrafo, fala-se no "risco de um plebiscito criar falsas ilusões...". Explique quais ilusões", que, segundo o editorial do jornal, o plebiscito pode criar.
5)Para defender a posição a favor da proibição da venda de armas, o editorial usa um argumento.
Responda:
a)Qual é o argumento
b)Para fundamentar esse argumento são usados dados estatísticos. O que esses dados apontam.
c)O que seria evitado com a proibição da venda de armas, segundo o editorial.
d)Que outro(s) dado(s) é (são) apresentado(s) para fundamentar o argumento a favor da proibição.
6)para defender a posição a favor da proibição da venda de armas, o editorial usa também um contra-argumento, ou seja, um argumento que poderia ser levantado contra a sua posição. Responda: qual é o contra-argumento.
7)A convivência em sociedade pressupõe a existência de normas que devem ser seguidas pelas pessoas.
a) Cite um exemplo de norma social aceita por você como necessária.
b)Cite um exemplo de norma social que você julga ser autoritária.
8)Explique como você entende a posição do jornal expressa neste trecho:
"[.s.]e o plebiscito determinar que o poder público deve proibir a comercialização ( de armas e munições)[...]não se deverá ver aí um atentado aos direitos e garantir fundamentais, mas apenas mais uma das clássicas regulamentações da vida em sociedade."
9)Releia o último parágrafo do texto linhas (43-51)
a) Pode-se afirmar que o jornal acredita que a proibição do comércio de armas de fogo e munição solucionará totalemente o problema da violência. Explique.
b)Esse último parágrafo retoma a ideia inicial para concluí-la. Justifique sua resposta.

Boa atividade! Bom feriado!

Profª Iara

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não será publicado comentários que firam a lei e a ética.

....... NÃO SERÁ PUBLICADO COMENTÁRIO ANÔNIMO....

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.